sábado, 22 de agosto de 2020

 

PARADOXOS

Em algum lugar, folhas caídas, tentam ainda trepar as árvores.
Não sei se é a folha que procura a árvore,
ou a árvore que procura ainda a folha...
Há buscas que nunca encontram caminhos...
Caminhos que ninguém procura.
Sonhos que ninguém persegue...
Estações com comboios que vão e vêm de lugar nenhum.
Partidas sem regresso e regressos a apeadeiros vazios.
Braços que ninguém espera e abraços que ninguém esperava...
Dias que não chegam e amores que nunca o serão.
Janelas voltam a fechar-se e abrem-se portas.
Praças enchem-se de gente e mais gente. Tanta gente…
de novo tão invisível no outro. Da janela, todos os dias,
avistava uma mulher, com um chapéu na cabeça de uma cor indecifrável.
Reconhecia-lhe o andar cambaleante,
de quem vai bêbada de saudade e amarguras.
Sem a janela...sem a janela já não a encontro!
Não sei se morreu ou voltou à transparência da rua.

Mas nada disto importa!

Mais ao longe, o verde de uma oliveira
resiste estoicamente à paisagem alaranjada.
Mesmo que eu não queira,
o sol já inundou os campos e as esplanadas,
onde umas mãos te rodeiam agora o pescoço...
e um homem de sorriso amarelo, tenta vender, por entre as mesas,
a solidão da rosa em pranto, pela falta de raiz.
A um canto da esplanada ali está ela! Uma mesa vazia.
Que talvez, por distracção ou respeito, ninguém quis ocupar.
Talvez me espere ... e ali te escreva mais um verso que ninguém lê.

Mas eu sei, eu sei... que nada disto importa!

Muito ao longe, no firmamento, céu e mar fazem-se uno,
sem deixar o mínimo rastro deste lugar,
onde comungam o amor e o ódio;
o céu e o inferno; a mulher do chapéu de cor indecifrável e um dia que não chega;
um comboio sem paragem e tu e eu.

Tudo isto sem rastro.
Tudo isto sem nós...

©SÓNIA MICAELO
 

 

 

domingo, 16 de agosto de 2020

Alicia Keys - If I Ain't Got You (Live from iTunes Festival, London, 2012)


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