sábado, 11 de junho de 2011

SER SENSÍVEL...


Ser sensível nesse mundo requer muita coragem.
Muita. Todo dia.
Esse jeito de ouvir além dos olhos,
de ver além dos ouvidos,
de sentir a textura do sentimento alheio,
tão clara no próprio coração e tantas vezes até doer
ou sorrir junto com toda sinceridade.
Essa sensação, de vez em quando,
de ser estrangeiro e não saber falar o idioma local,
de ser meio ET,
uma espécie de sobrevivente de uma civilização extinta.
Essa intensidade toda em tempo de ternura minguada.
Esse amor tão vívido em terra em que a maioria
parece se assustar mais com o afecto
do que com a indelicadeza.
Esse cuidado espontâneo com os outros.
Essa vontade tão pura de que ninguém sofra por nada.
Esse melindre de ferir por saber, com nitidez,
como dói se sentir ferido.
Ser sensível nesse mundo requer muita coragem.
Muita. Todo dia.
Essa vontade de espalhar buquês de sorrisos por aí,
porque os sensíveis, por mais que chorem de vez em quando,
não deixam adormecer a idéia
de um mundo que possa acordar sorrindo.
Pra toda gente. Pra todo ser. Pra toda vida.
Eu até já tentei ser diferente, por medo de doer,
mas não tem jeito: só consigo ser igual a mim.

Ana Jácomo

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