segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

PALAVRAS DE AMOR


Nesta noite estrelada beijei as tuas mãos...

Pensa, eu que te vi perdida e recobrada;
pensa, eu que me afasto de ti quando me esperas;
pensa, esta dolorosa paz do campo adormecido
perfumado das flores e das frutas primeiras...

Tu sabes bem tudo, tudo. Tu escutaste tudo
com os imensos olhos perdidos na distância;
quando eu me calo, tu me olhas e cai da minha boca,
como uma flor cortada para a tua boca, o meu beijo.
(Esta é a despedida quando apenas chegava,
isto é tocar apenas os portos e partir...
Que teus braços me amarrem, que não me deixem ir
para tocar apenas outro amor e partir!)

Ouves as minhas palavras e recolhes os meus beijos,
e prolongamos juntos o silêncio do campo
riscado pelos duros ladridos dos cães
e pela numerosa canção dos nossos passos.

... Nesta noite estrelada beijei as tuas mãos ...
De despedida, cruzo o teu amor e tu me deténs.
Vou dizer-te adeus e teus olhos me queimam;
Vou dar-te a angústia que me golpeia as têmporas
e galopa em minhas veias como um centauro louco,

mas minha voz tornou-se cantante e fervente
e meus dedos te revolvem a cabeleira escura;
e nesta noite estrelada minhas palavras se perdem
e caminhamos ébrios da mesma douçura.
... Ah! sabes tudo, tudo. Tu escutaste apenas,
no entanto sabes tudo.


PABLO NERUDA

In:"O rio invisível"

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